terça-feira, 31 de agosto de 2004

Sex and the City

A Paula, há um tempinho, comentou que hoje em dia mudou o alvo das críticas contra liberdades femininas. Ao invés de nos condenarem por fazer sexo como homens (com quem quiser, com prazer, sozinhas, sem compromisso, com brinquedinhos, etc), agora o alvo são os sapatos. Sapato como símbolo do consumo, quero dizer... Existem inúmeras críticas por aí ao estilo de vida das personagens de Sex and the City – positivas com relação à vida sexual e negativas no que diz respeito aos Manolo Blahniks e aos drinques e almoços e pilates, etc – que não são diferentes da repressão sexual que havia antes. O tabu hoje em dia é o dinheiro. Fico aliviada, é claro, com a diminuição do preconceito contra a liberdade sexual feminina, mas não acho que devia haver um substituto. Fica evidente que sempre tem de haver alimento pro sentimento de culpa... é impressionante.
Hoje minha terapeuta me contou que viu uma reportagem no jornal da manhã sobre um economista que está refazendo os conceitos econômicos de classes, e ele pôs pessoas de classe média alta ganhando em média 5000 reais de salário. Isso não é salário de classe média alta. Com isso os impostos para quem ganha mais do que isso, mas não é rico nem nada, só vão subir... Enfim, a coisa é mais grave, porque mexe com conceitos da mente coletiva, profundamente (muuuuito profundamente) enraizados. O preconceito com o dinheiro só veio crescendo e, sinceramente, acho que agora ou vai ou racha. As pessoas têm muito apego ao dinheiro, se esquecem de que ele flui e se multiplica. É um assunto complicado, eu sei. Não estou dizendo que quem é pobre tem mais é que se lascar porque tá merecendo. Nem de longe quero dizer isso... mas o dinheiro se tornou um peso mesmo para quem tem - é muito medo de perder.
Lembrando uma frase que uma amiga dizia – "quem tem pa* tem medo" – acho que hoje a frase é "quem tem grana tem medo". Eu não, tou fora.

Colega de Classe

Eu caminhava até ela, segurando uma rosa semi-aberta.
Eu galopava, pois era uma longa jornada.

Por um labirinto de escadas-rolantes, de um fosso a um fosso,
Na companhia de muitas moças fantasmagóricas.

Ela estava estirada em um tapete, recebendo convidados,
Seu pescoço um lírio de brancura imaculada.

Por favor ajoelhe-se, ela disse, junto a mim,
Nós vamos conversar sobre o bom e o belo.

Ela era talentosa, produzia poemas grafomaníacos.
Isso aconteceu em outro país, num século perdido.

Ela costumava usar um boné enfeitado com dentes de lobo,
Um emblema de nossa alma mater costurado ao veludo.

Sem dúvida havia se casado, tinha três filhos.
Quem pode rastrear esses detalhes?

Será que o sonho significa que eu a desejei?
Ou senti não mais que pena de seu antigo corpo?

E então me ocorre contar seus ossos espalhados
Já que sou o último entre a gangue de jovens de um século passado?

Uma descida até um Dantesco e escuro oco
Em algum lugar perto de Arcanjo ou no Casaquistão?

Ela deveria ter sido enterrada no cemitério em Rossa,
Mas um destino funesto sem dúvida a carregou para fora da cidade.

Por que ela, precisamente, não entendo.
Não tenho certeza de que a reconheceria numa rua movimentada.

E me pergunto o porquê de tão perversa construção:
Que a vida é vaga e só a morte é real.

Adeus, Piorewiczowna, sombra não-convocada.
Nem mesmo lembro seu primeiro nome.

– Czeslaw Milosz
(Traduzido do polonês pelo autor e por Robert Hass, para o inglês. Vertido para o português por Maíra Mendes Galvão)

segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Colesterol

Toda vez que vou buscar meu irmãozinho na escola, me sinto meio desconfortável com uma placa que fica ali na 716 norte. É de uma clínica de exames chamada RC Milletto, e a "marca" deles é branca e amarela. Parece um ovo cozido... Aí eu sem querer associo tudo: ovo cozido, RC Milletto parece "omelete" e ainda por cima está escrito assim "litotripsia" que eu não sei o que é, mas tem a ver com gordura. Meu colesterol aumenta só de olhar tudo isso... Eca.

domingo, 29 de agosto de 2004

Decifra-me e te devoro

Signos marcados codificam, e pulsando, indo embora; tudo tinto - outro dia jorra arrebentando. O dia a luz chega em ondas: o padre.

No verso dos envelopes de deus vem a concreta luz, a palavra intumescendo, agigantando, crescendo e fumegando. A gangrena de deus, a perfeição pelos buracos do dia. Em todo corpo santo há um tanto deslocado pelo meio dos espólios
do dia, uma caída de cabeça, inclinada pra trás, uma roda de pessoa só. Todos os fogos nas órbitas e frases nos dedos.

Obstinação e a luz chegando. O dia voltou, trouxe consigo os semi-matinais. Quase sem perigo mas escutando de fora. Nem todos vieram.

O peso real é um apenas.

Ah, sim,

ontem fui a uma festa sozinha. Fui – pela ponte nova – e gostei de ter ido.
Faço até campanha se precisar, acho que quem faz isso só tem a ganhar.

Como já dizia o pessoal daquela banda que eu gosto: ... get strong today, a giant step each day...

Seria legal se desse pra digitar umas notinhas tão facilmente quanto digitar texto. Ainda não sei bem como funcionam as fontes de notação musical, mas é fato que não tem pauta dando sopa por aqui nonada.
Mas seria bom, melhor ainda se fosse interativo... daria pra todo mundo tentar dar umas corrigidas naquelas transcrições horríveis que o povo publica por aí.
Tenho um apelo a fazer: ou tira a música, ou não tira. Não sei se é muito válido "tirar mais ou menos", acho que confunde mais. Songbook deveria ser uma prática mais recorrente e mais acessível.

Acordei cedo, Brasil e ouro e

fui pela primeira vez a um Bat Mitzvah.

sábado, 28 de agosto de 2004

Para tudo

Sabe quando você fica muito distraído e entende alguma coisa (que alguém te falou) de um jeito totalmente avesso?
E essa coisa que você entende te dá um susto e você fala algo que é exatamente aquilo que você não quer que seu interlocutor entenda? Aquilo que é justamente o que você não está querendo dizer, mas como entendeu errado, acaba dizendo e aí já era?
Eu fiz isso hoje. Que vergonha.
É ruim. Estraga conversas descontraídas e faz o interlocutor ficar com a pulga atrás da orelha... :/

sexta-feira, 27 de agosto de 2004

Rottweiler - uma judiacao

Lá vai o título. Não sei porque não aceita acento!!

Minha cachorra voltou do hospital hoje. Tadinha... Ficou internada dois dias por causa de um rottweiler solto.
Acho um horror as pessoas criarem essas raças esquisitas de cachorro. Eles não tem culpa de serem como são, mas não deviam nem ser, pra começar. Mesmo que não sejam treinados pra atacar, eles podem dar um siricotico e pegar até o dono de jeito. Só sei que o cachorro do vizinho pegou a Atena e furou a coitadinha toda, agora ela tá cheia de pópatapátaio e tomando antibiótico e usando aquela gola elisabetana.
Foi horrível ver a cena, o rott crava mesmo a boca, não solta. Eu chorei muito – de nervoso – é estranho ver uma coisa tão "selvagem" assim, ainda mais sendo tão citadina (mesmo que eu seja roça-wannabe, ainda sou uma guria de cidade). E logo na minha cã, coitada, cheia de boas intenções. Espero que parem de fabricar uns cachorros assim. É feio dar vida a monstrengos deliberadamente, quando não há a menor necessidade. E depois que já estão vivos, complica, eu sou contra sacrifício e tudo o mais.
Mas o que interessa agora é que a gente confiou, e a bichinha está bem. É uma guerreira... ahahahha.... e eu que achava que ela não fazia muito jus ao nome. Mas, em retrospecto, ela já nasceu com uma pequena má-formação óssea, pariu três vezes (inclusive no primeiro cio), foi atropelada e já levou gudunhada de rottweiler duas vezes. Ela é, mais do que nunca, Palas Atena. "Palas" eu sempre achei adequado (quem a conhece sabe por quê) e agora estou achando que "Atena" não é de todo um disparate. Acho que a gente precisa é cuidar melhor dela... ô dó. :/

quarta-feira, 25 de agosto de 2004

Ih, ralei o joelho de novo!

Ontem eu estava comendo bolo de laranja na casa da Paula, e ela se lembrou de um dos fatos mais importantes da infância: o "ralado".
Acho que eu tinha falado sobre merthiolate, aí a conversa foi evoluindo e a gente se deu conta de que não usa mais merthiolate simplesmente porque não sai mais se ralando por aí. Quando se é criança, é coisa corriqueira, toda semana. Joelho, cotovelo, eu mesma já ralei a barriga uma vez.
A Paula teve um ataque de riso por causa disso e eu fui contagiada. É que esse termo "ralar" é bem engraçado, se você pára pra pensar. Engraçado pra nós, pra criança não tem graça nenhuma, é um saco.
E então a gente ficou especulando sobre o porquê de os badequinhos se machucarem tanto. É claro que a resposta não é muito difícil. Pra começar, eles se arriscam mais: sobem em árvore, aprendem a andar de bicicleta, skate, carrinho de rolimã, brincam de correr o tempo inteiro. Mas tem outra razão mais bonitinha: criança se mexe pra caramba! HAhah. Dá até vontade de rir, porque fico lembrando do Ju no último jogo da seleção feminina de futebol – eu querendo assistir e ele do meu lado se acomodando incessantemente, ou "viajando" no movimento das próprias pernas, ou coçando o pé na mesa, sei lá. Lá pelas tantas eu me levantei e fui assistir na outra tevê. Mas agora até fiquei com peninha, porque ele tem muita energia, precisa gastar. E a Paula mesma apontou: a gente também se mexe bastante – de um jeito mais discreto, é bem verdade – mas se mexe. Quem não fica brincando com a lapiseira durante uma aula, ou mexendo no cabelo, ou sacudindo o pé, cortando papelzinho, unhando o braço, arrancando casquinha da parede, etc?
Seria feio se fizessem uma colagem de filmes desses momentos em sala de aula, ou reuniões, almoços, palestras... Imagina a esquisitice dessas pessoas.

terça-feira, 24 de agosto de 2004

Prolixificando

Ah, senti necessidade de complementar o último post.
Não sou feminista, não quis dizer que é ruim querer ficar com alguém, nada disso. Caso tenha passado essa impressão, foi uma falta textual – coisa da qual vou ter que fugir como o diabo foge da cruz nos próximos meses. Irônico, né? Passei os últimos anos tentando fazer meu texto ficar menos explicado e agora vou precisar fazer o inverso. Isso foi só uma digressão, estou achando até boa a mudança, aumenta as possibilidades. Voltando ao assunto, eu sou bem a favor dos moços, inclusive sou a primeira a dizer que muitos homens valem, sim, o pão que comem, etc. O que descrevi ali embaixo foi nada mais do que a delícia de estar sem expectativas quanto a isso, sem (quase nada de) ansiedade, deixando vir o que tiver de vir, mas também sem desleixo – não se pode eximir de interagir com o que vier. É uma forma que, me parece, facilita lidar com as pessoas: sem apego, mas com interesse.

Comentando o post dos sonhos

Estava relendo aquele post ali embaixo sobre o diário. Que coragem a minha de contar justo esse sonho "garanhão" que eu tive... hahah.
É tão sintomático esse tipo de sonho, ele sempre veio em épocas meio carentes, em que eu acabava achando que precisava de um moço. Então, percebendo isso, parei agora pra pensar que faz tempo que não tenho esse sintoma. E isso é muito bom. Acho que deve ser por isso que ultimamente fiquei com mais vontade de rever Próxima Parada: Wonderland. É uma falta de ansiedade, é aceitação de não ter expectativas, é uma liberdade maravilhosa...

É claro que a gente sempre desconfia. Estava conversando com meu irmão e a namorada dele sobre isso outro dia. É uma fase tão confiante nos fluxos e processos, tão consciente de si. Bom, na verdade cabem alguns segundos de ansiedade sim, normal. Mas eu comentei com eles que não sei se fico pensando que conquistei uma mudança de postura importante, ou que é melhor não comemorar demais, que deve ser passageiro. Isso porque eu não conheço uma mulher que não seja ansiosa e insegura com relacionamentos, com ficar sozinha, com a forma de se comportar perto de algum possível pretendente... Não conheço uma que não tenha tido seus percalços por causa disso pelo menos uma vez! Nessas horas não sei se é derrotismo ou realismo pensar que deve ser uma característica inexorável feminina essa "carência", que é só uma fase "masculina" pela qual estou passando e que, afinal de contas, existem bons motivos pelos quais nasci mulher e não homem.
Tirando todo esse consultório psicanalítico aí, é um refresco estar assim. É muito bom cuidar de si, ficar mais independente. Mas não vou falar demais assim publicamente, pra não abusar, né.

segunda-feira, 23 de agosto de 2004

Vamos ao conceito de previa

Antes de tudo: o blogger não está lidando muito bem com os acentos ali em cima no título. Pode ver em outros posts, também acontece. Paciência...

Um mês antes de um festival tem uma prévia. Será que é pra medir a quantidade de público? Ou pra ajudar a preparar o terreno, literalmente, já que todo mundo vai pisotear a grama mesmo. Bom, essa prévia teve como ingresso alimento não-perecível, então já é um bom motivo, mas existem outras prévias. Que nem o "grito" de carnaval. Esse é o melhor... Grito!
Ahahhaa...
Acho que não tem muito o que discutir, quem fica arrumando motivo pra festa deve ser muito chato. Só acho engraçado que se chama "prévia"... é tipo uma degustação, amostra gratis...
Na verdade o mais inusitado da história toda, para mim, é que eu fui parar lá. Mas fiquei orgulhosa depois, vi que eu aguento mais empurra-empurra do que acreditava. Pra dançar era difícil, tava muito cheio, sem contar os meus trajes inadequados e o sono e o frio. Mas, ainda assim, foi aquela estória do lotus nascer do meio da lama... saí de lá incólume.
Ah, e tem também o agravante de que eu sou contra festas na Esplanada. Acho que ali é lugar de outro tipo de manifestação cultural/social... mas tudo bem, não sou xiíta nem nada.

domingo, 22 de agosto de 2004

Mais um pouquinho

Milton Nascimento
Peixes
Viola enluarada
Pão caseiro

Melhor guardar o resto pra depois, parei.

É um vicio, nao consigo parar!

Elomar. Elomarrr!

Au bord de l'eau......................................................................algumas músicas do Elton John, shhhh................................

Mão de mãe, a da minha é tão magrinha e pequena.
Dançar no quarto e ficar rindo sozinha, que nem agora.
Igrejinha de Paraty, é doce/morrer no mar/nas ondas/verdes do mar
Um pandeirinho mei quietinho
voz – a voz das pessoas é linda!

Gmaj7 Bmaj7
Let me in here, I know I've been here

Delicadeza

Ai como delicadeza é bom.
Dói um pouquinho inho só pra temperar mas, de resto, é bom bom bom demais.
Cucurrucucú paloma.
Próxima parada: wonderland.
Morte em Veneza.
Lhasa de Sela.
Modigliani.
Água em temperatura ambiente.
Temperatura.
Patagônia.
Letras de música simplórias, mas que dão arrepios na coluna, como essa:
"Cause love's such an old fashioned word
And love dares you to care
For the people on the edge of the night
And love dares you to change our way
Of caring about ourselves"

Perto daqueles dias... hormônios descontrolados... dá nisso.
Ai, sinto tanto amor pelo mundo todo. Depois dá pra deletar isso aqui se ficar estranho, mas não dá pra sentir tanto amor sem contar pra ninguém, é egoísmo, mesmo.

Outra letra:

"All that you touch
All that you see
All that you taste
All you feel.
All that you love
All that you hate
All you distrust
All you save.
All that you give
All that you deal
All that you buy,
Beg, borrow or steal.
All you create
All you destroy
All that you do
All that you say.
All that you eat
And everyone you meet
All that you slight
And everyone you fight.
All that is now
All that is gone
All that’s to come
And everything under the sun is in tune
But the sun is eclipsed by the moon"

Ser prosaico é um direito.

Ah, outra coisa muito delicada: Cesaria Évora.


BMF-e e uma saia loooonga.

Semana passada fui parar lá na prévia do BMF-e – aliás, esse conceito de prévia é engraçado, vamos discuti-lo depois – mas não estava preparada. Antes estive na inauguração da casa de uns amigos, jantar, vinho, música africana, aposentados, pais de família, noves fora: eu de saia longa, ligeiramente indiana, com uma cauda cheia de "u". Me pisaram a saia a noite inteira, imagina eu no BMF, no meio da Esplanada – não me canso de achar esse nome bonito – vendo de vez em quando um pedacinho da Catedral, mas agora a saia já foi lavada. E foi um pisoteio passional, alguns aproveitavam pra dar uma puxadinha nos meus cabelos, caudalosos mas sem cauda, se me perdoam. E tentativas de beijo, um até me disse "você é feia" e muitos apertões no pulso e o tradicional "velho de balcão" - na falta do banquinho, sobraram só a morosidade, o olhar lânguido e a sensação de que ele tá te seguindo.
De saia longa e bota lá no meio da saia curta e bota, foi engraçado...