Eu caminhava até ela, segurando uma rosa semi-aberta.
Eu galopava, pois era uma longa jornada.
Por um labirinto de escadas-rolantes, de um fosso a um fosso,
Na companhia de muitas moças fantasmagóricas.
Ela estava estirada em um tapete, recebendo convidados,
Seu pescoço um lírio de brancura imaculada.
Por favor ajoelhe-se, ela disse, junto a mim,
Nós vamos conversar sobre o bom e o belo.
Ela era talentosa, produzia poemas grafomaníacos.
Isso aconteceu em outro país, num século perdido.
Ela costumava usar um boné enfeitado com dentes de lobo,
Um emblema de nossa alma mater costurado ao veludo.
Sem dúvida havia se casado, tinha três filhos.
Quem pode rastrear esses detalhes?
Será que o sonho significa que eu a desejei?
Ou senti não mais que pena de seu antigo corpo?
E então me ocorre contar seus ossos espalhados
Já que sou o último entre a gangue de jovens de um século passado?
Uma descida até um Dantesco e escuro oco
Em algum lugar perto de Arcanjo ou no Casaquistão?
Ela deveria ter sido enterrada no cemitério em Rossa,
Mas um destino funesto sem dúvida a carregou para fora da cidade.
Por que ela, precisamente, não entendo.
Não tenho certeza de que a reconheceria numa rua movimentada.
E me pergunto o porquê de tão perversa construção:
Que a vida é vaga e só a morte é real.
Adeus, Piorewiczowna, sombra não-convocada.
Nem mesmo lembro seu primeiro nome.
– Czeslaw Milosz
(Traduzido do polonês pelo autor e por Robert Hass, para o inglês. Vertido para o português por Maíra Mendes Galvão)
terça-feira, 31 de agosto de 2004
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