metade do mundo se desentendeu da outra metade. ninguém sabe ao certo quem começou, e essa atribuição muda a cada momento da luta. sim, uma espécie de guerra deflagrou-se, curta, dolorida e lancinante.
metade do mundo desaprendeu como funciona a outra metade. nenhuma das duas sabia mais a língua da outra. não sabiam nem se era a mesma, se esqueceram até de palavras cordiais protocolares.
metade do mundo e a outra metade, cada qual, ficaram distantes.
mas eis que uma das metades, não se sabe qual, começou a reconhecer algumas coisas. sua memória resgatou pedaços, sufixos, alguns radicais. e com isso ela tentou até criar uma nova língua, pois percebeu que queria falar à outra metade.
as duas metades, assim, juntando pedaços: o momento de reconhecer é sempre uma tragada de ar, uma descida para cima. ascender pela baixa de guarda. quando se avivam gestos, fragmentos, reações, e assim se resgata a outra metade.
são duas sim, mas cambiantes, tão passíveis de serem integradas, que é difícil separar claramente. pela língua, fácil, mas na verdade, impossível. é só impossível.
um, dois, chuva com sol... o fininho do choro já se escutando lá longe. vontade de cirurgicamente espalhar o peito. um, dois.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
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3 comentários:
The Spark that Bled
E o reconhecimento paralelo, é o de dentro de cada metade consigo mesma.
Quando acontece é assim: o tiro mais suave que se já levou.
... ah =)
houais à parte, eu descobri o que era glauco com foucault, em 'raymond roussel', onde um 'adolescente de sangue glauco capaz de entrar voluntariamente em estado de coma...' aí, você tem que ler o livro, ou adivinhar o resto ;)
obrigada pela visita, aparece sempre...
ana.
que lindo hein! :~~
belo post
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