nas bordas da boca, as palavras quase cessavam. já se iam a despedir, talvez impelidas pela forte pressão de um emaranhado que subia sem mais barreiras. e era esse o argumento, o que não se sabe se perdido ou ainda quase encontrado.
era o emaranhado de reconhecimento a emergir quando não mais se precisaria de argumentos, quando as bordas já eram portas abertas, e soavam como despedida.
foi aí, ainda na segurança dos lábios, que aconteceu o discurso amoroso final, de um fim entre muitos possíveis, com augúrios de muitos começos também possíveis. e esse discurso não veio mais em forma de jatos de palavras, mas veio em forma de nu, sem proteção, possivelmente muito parecido ao que era quando nasceu.
e refletia luz. e arrancava vestígios corporais. e introduzia contato ritmado. e entregava presentes. e também os olhares mais mortificantes de que se teve notícia. sim, era o discurso mais bonito de que se teve notícia.
...e agora só me resta repetir aqui algo que diz isso muito melhor, paul celan mais uma vez:
ELOGIO DA DISTÂNCIA
Na fonte dos seus olhos,
vivem redes de pescadores de um mar demente.
Na fonte dos seus olhos,
O mar mantém sua promessa.
Aqui lanço,
coração que viveu entre os homens,
minhas vestes, e o brilho de um juramento:
Mais negro em meio ao negro, mais estou nu.
Somente renegado sou fiel.
Eu sou você quando eu sou eu.
Na fonte dos seus olhos
derivo e sonho com o saque.
uma rede prendeu-se a outra rede:
separamo-nos envolvidos.
Na fonte dos seus olhos
um enforcado estrangula a corda.
Trad. Adalberto Müller
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
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4 comentários:
Quando eu voltar de viagem vamos sair, vamos ver filme (de verdade dessa vez), tomar café ou chocolate, comer amendoim com casquinha branca, frango com gorgonzola que você ensinou a gostar...etc. E além da comida vamos fazer outras coisas também. Amore mio.
:~~
oi, que bom encontrar minha traducao aqui. visite o cordel digital.
abraco
adalberto
oi, que bom encontrar minha traducao aqui. visite o cordel digital.
abraco
adalberto
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