Acordei hoje com um email cuja repercussão mais leve em mim foi, ao me incitar a reler meu próprio blog, me fazer perceber que estamos no mês de aniversário dele.
Apesar da ordem um pouco vaga de sua apresentação, é sim possível notar o movimento. A progressão de temas recorrentes – temas sim, desta vez não vou dizer que a escrita não é topológica, não vou chamar de escritura e nem pretender criar um mundo que não é o real. Tudo o que foi registrado nesta região é tema. E é indecentemente metafísico.
Toda a superexposição das palavras evidencia uma fuga, livrar-se de interpretações de conduta, de absolutos e espelhos.
Mas agora, com um ano de blog, prefiro dizer, ainda que não saiba exatamente o caminho e tenha uma idéia apenas incipiente do fim, que troco a relativização pelo confronto. Não é mudar de perspectiva para mudar o resto do mundo, mas para alimentar sua condição.
Ontem alguém que não eu também conseguiu ver que sou Zelig; quando me aproximo de alguém, fico sendo essa pessoa. Além de compartilhar dessa visão, acredito que essa multiplicidade consiste em nada mais do que etapas de uma busca muito extensa. Não sei como dar consistência a nada sem que tenha estabelecido parâmetros antes. Esse pode ter sido o primeiro passo, portanto, do processo que começou ali nas alturas do aura amara. Agora reflexo. E a dúvida...
Apaixonados buscam lisonjas, anteparo no outro para protelar um momento de análise verdadeira. Agir com egocentrismo não me parece ruim se se considerar a unidade da condição humana. Nesse caso, melhorar-se seria benéfico ao grupo. Mas não consigo ver no que as paixões poderiam contribuir, nem mesmo para uma pessoa só, ou duas. A relação baseada em paixões é um castelo no ar, construção feita em cima de abstrações como expectativas, fantasias, projeções, ânimos extremos. Não só um castelo, mas dois fortes em guerra, enquanto os corpos permanecem parados. Gosto muito de um trecho do Extasie (aquele poema do John Donne que já pus aqui, em abril):
"(...) Our soules, (which to advance their state,
Were gone out,) hung 'twixt her, and mee.
And whil'st our soules negotiate there,
Wee like sepulchrall statues lay,
All day, the same our postures were,
And wee said nothing, all the day. (...)"
As almas engalfinham-se nas contradições e angústias de tentar olhar para si próprias, olhando para o outro. Vêem no outro o que querem, no início, depois começam a enxergar o que não esperavam, desesperam-se, esfregam os olhos, tentam consertar, ocupam-se o máximo possível para que não precisem virar-se para si. Algumas vezes, sentindo-se derrotadas, passam a viver na torre de suas fortificações, elas próprias seus carcereiros, alimentam-se de lamúrios pelo que o outro não pôde alcançar e mal sabem que ainda estão lutando. A guerra de cada um tentando modificar o outro, tentando mostrar ao outro o que ele vê, mas permanecendo cegos. Enquanto isso, os corpos estagnados são impedidos de fazer qualquer coisa e definham...
Mas vou continuar depois, este post está muito longo e não quero comemorar o aniversário do blog com cérebro frito.
domingo, 31 de julho de 2005
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Um comentário:
intiresno muito, obrigado
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