domingo, 28 de janeiro de 2007

semunidade

hoje pensei naquele livro que (acho) já comentei aqui: 'o espírito da intimidade', de uma moça do burkina faso chamada sobonfu somé.
pensei em como se poderia aplicar o que ela conta na vida ocidental. lembrei de uma nota que tomei daquele outro livro que (acho) já comentei, 'ecopsychology', que dizia que a psicologia considera saudáveis os que tendem cada vez mais ao individualismo, à satisfação relacionada a um conceito sólido de si e um modo de vida que afirma características que (acreditam) são individuais. me parece, pelo livro da sobonfu, que no mundo oriental (não-ocidentalizado incorrigivelmente) isso nem sempre se aplica, do contrário, saudáveis são os que tendem ao comunalismo, ao senso de ser parte e não exatamente todo, pra usar termos grosseiros.

quando alguém na tribo dagara tem um problema pessoal, toda a comunidade é envolvida na resolução. há, sim, uma espécie de círculo feito para o trabalho individual da questão (ou do par, caso seja conjugal), mas é uma etapa tão importante quanto o levantamento de pontos de vista e de energias vindos de outros membros do grupo maior.

ninguém que lê ou escreve isto aqui é capaz de viver isolado. nem tampouco de desenvolver um relacionamento (seja familiar ou conjugal ou de amizade) em que só estejam envolvidos os dois. já sofri bastante a perda de família de ex-namorados, de amigos, de práticas sociais e etc. isso é só um exemplo claro e crasso de como as coisas andam mescladas mesmo. talvez seja um indício de que resolução de problemas pode ser uma tarefa melhor executada em conjunto.

as pessoas vivem por aí se entorpecendo de bens de consumo, relacionamentos convenientes, sentimentos de posse, superfícies opacas em geral. (pra quem tem vontade de fazer um comentário do tipo 'não ponha a culpa nos sapatos': não é isso, vai, você entende) todas essas coisas têm um fator subterrâneo forte: o individualismo. já escrevi sobre isso aqui (olha a indignação, é grande), sobre como se diz 'eu te amo' e logo depois se castra a outra pessoa de modo a ajustá-la ao gosto pessoal. e esse 'gosto pessoal', saliente-se, em geral não é GOSTO, mas sim vontade de escutar agrados, de receber mimos, de criar uma zona de conforto, enfim, que faça o fantasma de um possível sentimento existencial ir embora. individualismo, na minha (não-apegada) opinião.

o que se faz por dinheiro também segue a mesma lógica, o entorpecimento de sensações e pensamentos existenciais, ou questionadores, ou quem sabe até niilistas, ou mesmo edificantes demais (sim, perda de ego), humanistas demais. essas últimas são coisas em desuso, é patente: brega ser bonzinho, sinal de fraqueza ser afetuoso, coisa de mulherzinha (mulherzinha, veja bem... essa foi pra você, iza =*). o campo semântico considerado feminino suprimido de homens e mulheres: percepção, intuição, afeto, solidariedade, honestidade, e por aí vai.

que medo é esse???
medo de perder o ego?

bah, eu não sei bem, mas quem sabe praticar mais qualquer questionamento ou instrumento de resolução de conflitos em grupo parece ser uma boa, sim. não precisa fazer isso com qualquer um, mas existem formas de comunidade dentro do nosso mundo panaceico sim, grupos de amigos com muitas coisas em comum, por exemplo. como adoraria se pudesse escrever e fazer mágica logo depois, criar uma nuvem contaminosa de proatividade que induza as pessoas ao sentimento comunal, a não boicotar aquilo que parece ser inerente à natureza, o sistema auto-organizado dinâmico, auto-regulador... que se (eu pelo menos) fosse personificar diria que deve ser confiante.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

potenciometro

assolam-se-lhe as órbitas e encavam-se-lhe as têmporas. transfigurada, sua trajetória pelo percurso inexoravelmente sem curvas do desespero. a imagem, perfeitamente feita de retas, vazios, ausência de cor, a única refletida nos ocos dos olhos.

distantes, não se sabe se a percorrer o ar ou a memória, vestígios sônicos, timbres. seus pavilhões despedaçados, ambos, a ensaiar recomposição, sofregamente, há que escutar. não é preciso alimento, não, não se quer água, quando se tem as vozes dos seus santos pessoais. são eles – sim, explique-se – miudezas em suas imperfeições, unidades cada qual com seu pedaço de afeto. aquele dado por seus iguais é em forma de atmosfera, permeia seu espaço sempre compartilhado e ele não se questiona. é dado, está lá, ninguém fala nisso.

aquele estendido por suas contrapartidas não se aceita de fato, volume que se apresenta e tem peso. não é atmosfera. exige-se que se fale dele. será? tem peso. em sua santidade, não os impedir de fluir é mais importante do que descarregar-se de tais volumes.

delírios de envolver o panteão com toda a potencialidade do universo. de celebrar e entregar-se sem reserva alguma. assim mesmo, servir, suprimir tudo o que é seu, ser o copo mais perfeito para dar de beber. já que não se pode beatificar.

essa não-tão-contrapartida se aproxima, é certo, ela é capaz de tocar o sacro, e até mesmo de, ao assim proceder, não profaná-lo. mas os volumes, estes serão sempre dela. se assim desejar seguir, nem santa nem contra, a deformar-se mais e mais, transtornar-se a si mesma. confundir-se com os volumes. produzi-los, publicá-los. proteger os santos contra eles, não sujar suas epifanias, transformar em código, cifrar: aqui. mais e mais.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Adeus, Alice

Jazz titan Alice Coltrane died in Los Angeles on Friday, January 12, the Los Angeles Times reports. She was 69 years old and suffered from respiratory failure.

Born Alice McLeod in Detroit in 1937, the pianist/harpist/organist started studying music as a child. She was an accomplished performer in her own right long before she met husband John Coltrane in 1963. The pair was married in 1965 and Alice joined John's band, replacing pianist McCoy Tyner.

John Coltrane died in 1967, and Alice continued on as a bandleader, performing with such musicians as Pharoah Sanders, Joe Henderson, and Rashied Ali. She released several groundbreaking albums, including A Monastic Trio, Ptah the El Daoud, Universal Consciousness, and the spectacular Journey in Satchidananda, before embarking on a long retirement from recording and public performance in 1978.

Alice spent much of the following decades focused on raising her children, overseeing John Coltrane's estate, and engaging in spiritual pursuits. A devoted follower of Hinduism, Alice founded an ashram in the Los Angeles area in the mid-1970s.

In 2004, Alice Coltrane released Translinear Light, her first album in 26 years. She supported it with a smattering of performances, the last of which occurred in November of 2006. At the time of her death, Alice was working on a new album, Sacred Language of Ascension, which combined music with religious chants.


=/

domingo, 14 de janeiro de 2007

a pala da vida

no céu, a manhã aparecia em jorros. olhar para frente: a luz congelava explosão de nuvem. para um lado: mais uma. e assim, aos poucos, a busca e a oferta do dia se desenrolaram. e assim, aos poucos, mais uma metáfora ia ao encontro de uma de muitas conclusões... a conjunção de ritmos e velocidades dos que vão contra a natureza, ou a favor sem saber. aqueles novos jatos de clarão que busquei e aceitei consonantemente. esta linguagem com que faço registro é aquela que, em ondas, mostra a praia e o fundo, em troca. é aquela que mostra o eu e os outros. é a cama, o veículo: somos em contraponto.

mãos postas (porque assim escritas): vivas para cada uma dessas velocidades particulares, vivas para eu em vocês e o contrário. que as linguagens continuem se desdobrando em reflexos de luz trocados, desfocados na fonte, compartilhados sem querer. a pala da vida, queridos, a pala da vida.

muito queridos.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

don t wear fear, or nobody will know you re there

cat stevens não estava errado.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

vergonhinha

esses dias resolvi mudar o meu perfil do orkut... me senti muito esnobe por ter um perfil 'cool', com poucas e meias palavras, enfim, com uma certa estética. resolvi escancarar, deixar de ser omissa, me expor e correr o risco de me acharem comum, deselegante, etc e tal.

putz, não me senti bem. voltei para o perfil metido a fodão...

é pra rir mesmo. todo mundo sabe o quanto é difícil se livrar de preocupação com as opiniões de outros, aliás, nem é só isso: acho que a maioria das pessoas gosta de se expressar para encontrar iguais. quem responde com uma lista de livros e cds tem um perfil do consumidor baseado nessas coisas. quem tem um perfil como o meu gosta de pessoas que se sintam instigadas, e gostam de espantar as que não 'sacam' nada.

no fundo, o que eu quero é gostar de qualquer pessoa... eta trem maçante. caraca.