domingo, 31 de julho de 2005

...continuando

É bom deixar claro que falo de paixões e relacionamentos baseados no ideal romântico que, hoje em dia, nem mesmo romântico é, deveria ter outro nome. Enquanto, obviamente, careço de mais informações e aprofundamento no assunto, tenho uma idéia de que o amor propriamente dito é absolutamente diverso e não está circunscrito a uma relação de possessão e projeção. Uma amizade verdadeira é o que mais se aproximaria disso, grosso modo, hoje em dia.

Honestamente, acho melhor não prosseguir com isto por agora. Vou fechar com a ajuda de terceiros, se me permitem.

Why should a foolish marriage vow
by John Dryden

Why should a foolish marriage vow,

Which long ago was made,

Oblige us to each other now

When passion is decay'd?

We loved, and we loved, as long as we could,

Till our love was loved out in us both:

But our marriage is dead, when the pleasure is fled:

'Twas pleasure first made it an oath.



If I have pleasures for a friend,

And farther love in store,

What wrong has he whose joys did end,

And who could give no more?

'Tis a madness that he should be jealous of me,

Or that I should bar him of another:

For all we can gain is to give our selves pain,

When neither can hinder the other.

Aniversario deste blog

Acordei hoje com um email cuja repercussão mais leve em mim foi, ao me incitar a reler meu próprio blog, me fazer perceber que estamos no mês de aniversário dele.

Apesar da ordem um pouco vaga de sua apresentação, é sim possível notar o movimento. A progressão de temas recorrentes – temas sim, desta vez não vou dizer que a escrita não é topológica, não vou chamar de escritura e nem pretender criar um mundo que não é o real. Tudo o que foi registrado nesta região é tema. E é indecentemente metafísico.

Toda a superexposição das palavras evidencia uma fuga, livrar-se de interpretações de conduta, de absolutos e espelhos.

Mas agora, com um ano de blog, prefiro dizer, ainda que não saiba exatamente o caminho e tenha uma idéia apenas incipiente do fim, que troco a relativização pelo confronto. Não é mudar de perspectiva para mudar o resto do mundo, mas para alimentar sua condição.

Ontem alguém que não eu também conseguiu ver que sou Zelig; quando me aproximo de alguém, fico sendo essa pessoa. Além de compartilhar dessa visão, acredito que essa multiplicidade consiste em nada mais do que etapas de uma busca muito extensa. Não sei como dar consistência a nada sem que tenha estabelecido parâmetros antes. Esse pode ter sido o primeiro passo, portanto, do processo que começou ali nas alturas do aura amara. Agora reflexo. E a dúvida...

Apaixonados buscam lisonjas, anteparo no outro para protelar um momento de análise verdadeira. Agir com egocentrismo não me parece ruim se se considerar a unidade da condição humana. Nesse caso, melhorar-se seria benéfico ao grupo. Mas não consigo ver no que as paixões poderiam contribuir, nem mesmo para uma pessoa só, ou duas. A relação baseada em paixões é um castelo no ar, construção feita em cima de abstrações como expectativas, fantasias, projeções, ânimos extremos. Não só um castelo, mas dois fortes em guerra, enquanto os corpos permanecem parados. Gosto muito de um trecho do Extasie (aquele poema do John Donne que já pus aqui, em abril):

"(...) Our soules, (which to advance their state,
Were gone out,) hung 'twixt her, and mee.
And whil'st our soules negotiate there,
Wee like sepulchrall statues lay,
All day, the same our postures were,
And wee said nothing, all the day. (...)"

As almas engalfinham-se nas contradições e angústias de tentar olhar para si próprias, olhando para o outro. Vêem no outro o que querem, no início, depois começam a enxergar o que não esperavam, desesperam-se, esfregam os olhos, tentam consertar, ocupam-se o máximo possível para que não precisem virar-se para si. Algumas vezes, sentindo-se derrotadas, passam a viver na torre de suas fortificações, elas próprias seus carcereiros, alimentam-se de lamúrios pelo que o outro não pôde alcançar e mal sabem que ainda estão lutando. A guerra de cada um tentando modificar o outro, tentando mostrar ao outro o que ele vê, mas permanecendo cegos. Enquanto isso, os corpos estagnados são impedidos de fazer qualquer coisa e definham...

Mas vou continuar depois, este post está muito longo e não quero comemorar o aniversário do blog com cérebro frito.

segunda-feira, 11 de julho de 2005

Os Versos de Ouro - Pitagoras de Samos

1. Primeiro honra os Deuses Imortais, como estabelecido e ordenado pela Lei.
2. Reverencia teu Juramento e, então, os Heróis, plenos de bondade e luz.
3. Honra igualmente os Espíritos Terrestres em respeito manifesto segundo a Lei.
4. Honra em conformidade teus pais, e aqueles mais próximos a ti.
5. Entre os homens, faça teu amigo o que se distingue por sua virtude.
6. Alimenta-te de suas palavras suaves e segue o exemplo de seus precisos e virtuosos atos.
7. Evita ao máximo odiar teu amigo por uma pequena falta.
8. [Assim, entenda que] o poder é limitado pela necessidade.
9. Saiba que tais coisas são assim como as reporto; e acostuma-te a superar e exinguir as seguintes paixões:
10. Primeiro gula, preguiça, luxúria, e raiva.
11. Nada faça de maldoso, estejas só ou na presença de outros;
12. Mas, acima de todas as coisas, respeita a si próprio.
13. Depois, preserva justiça em tuas ações e palavras.
14. E não viva sem regra ou razão, observa o perigo da comodidade.
15. Mas sempre reflita em que, ordenado pelo destino, o homem irá perecer.
16. E em que os bens da opulência são incertos; assim como se pode adquiri-los, podem ser perdidos.
17. As calamidades a que o homem submete-se por intervenção divina,
18. Suporta com paciência, quaisquer sejam, e delas não guarde rancor.
19. Mas emprega o que puderes em remediá-las.
20. E pondera que o destino não rege a maior parte dos infortúnios do homem.
21. Argumentos existem vários entre os homens, bons e ruins;
22. Não os admira facilmente, nem tampouco os rejeita.
23. Se te deparas com falsidades, escuta-as com suavidade e arma-te de paciência.
24. Observa bem, em todas as ocasiões, o que aqui exponho:
25. Não se permita seduzir por homem algum, seja por suas palavras ou seus atos.
26. Tampouco te ponhas a falar ou agir sem que sejas com isso beneficiado.
27. Pondera e delibera antes de agir, modo a não incorrer em atos tolos.
28. É próprio do homem miserável falar e agir sem reflexão.
29. Faça o que não te afligirá no futuro, e nem te corroerá em arrependimento.
30. Jamais faça o que não compreendes.
31. Mas aprenda tudo que deves aprender, e por meio disso regalar-se-á de uma vida prazerosa.
32. De forma alguma negligencia a saúde de teu corpo;
33. Mas dá-lhe bebida e comida em medidas apropriadas, assim com o exercício de que necessita.
34. Entenda que os extremos não lhe serão salutares.
35. Acostuma-te com uma vida decente e ordenada, livre de luxúria.
36. Evita tudo o que ocasione inveja.
37. E não seja pródigo fora do tempo, saiba ser decente e honrado.
38. Tampouco seja invejoso ou avaro; a justa moderação é excelente em ambos os casos.
39. Faça apenas o que não te prejudicará, e delibera antes de proceder.
40. Jamais permita que o sono lhe cerre as pálpebras, ao deitares,
41. Até que tenhas examinado, com a razão, todas as ações de teu dia.
42. Em que falhei? Em que agi corretamente? O que deixei de fazer que deveria ter feito?
43. Se em teu exame descobrires falhas, seja severo em tua reprimenda;
44. E se houveres acertado, alegra-te.
45. Pratica largamente todas essas instâncias; medita bem sobre elas; deves amá-las com todo o coração.
46. Elevar-te-ão ao caminho da divina virtude.
47. Juro sobre aquele que transmitiu às nossas almas o Quaternário Sagrado, a fonte da natureza, cuja causa é eterna.
48. Mas jamais inicia quaisquer trabalhos até que tenhas primeiro rogado aos deuses que realizes o que estás prestes a empreender.
49. Quando fizeres de tal procedimento hábito familiar,
50. Absorverás a constituição dos Deuses Imortais e dos homens.
51. Até mesmo o quão diferentes os seres podem ser, o que contêm e o que lhes é comum.
52. Saberás, em conformidade, que, de acordo com a Lei, a natureza deste universo é em todas as coisas una,
53. E assim não desejarás o que não deves; e nada neste mundo será escuso para ti.
54. Entenderás, assim, que os homens trazem infortúnios para si voluntariamente, por seu livre-arbítrio.
55. Infelizes que são! Não enxergam e nem entendem que o Bem está próximo a eles.
56. Poucos sabem manejar-se para longe de suas desventuras.
57. Tal é o fim que cega a humanidade e priva-a de seus sentidos.
58. Sob imensos cilindros que rolam avante e em retrocesso, sempre oprimida por males inumeráveis.
59. Por sua desunião fatal e inata, perseguem-na em toda parte, atirando-a para cima e para baixo sem que os homens percebam.
60. Sem provocar ou acelerar tal movimento, devem, ao entregar-se, evitá-lo.
61. Oh! Zeus, nosso Pai! se Tu livras todos os homens dos males que os afligem,
62. Mostra-lhes de que espírito lhes é conveniente fazer uso.
63. Não temas; a raça do homem é divina.
64. A sagrada Natureza desvela-lhes os segredos mais encobertos.
65. Se ela lhe comunica os mistérios, facilmente praticarás tudo aquilo que hei lhe ordenado.
66. E, pela cura de tua alma, a libertarás de todo mal, de toda aflição.
67. Mas abstêm-te das carnes, que hemos proibido nas purificações e na libertação da alma;
68. Faça delas justa distinção, e examina bem as coisas.
69. Deixa-te guiar e dirigir pelo entendimento superior, que a tudo orienta.
70. E quando, após o desenlace de teu corpo mortal, alcançares o puríssimo Étereo,
71. Serás então um Deus, imortal, incorruptível, e a Morte não mais terá domínio sobre ti.

Tradução de terceiro grau: MMG.