domingo, 20 de fevereiro de 2005

um, dois, todos

os filmes mostram escritores que publicam livros sobre sua vida. Quando os escritores conversam com editores, discutem a verossimilhança dos personagens. Quando têm momentos de branco, passeiam por aí e pensam sobre o futuro dos personagens, seus caracteres idiossincráticos ou psicológicos. Encontram alguém conhecido e a pessoa pergunta SOBRE o que é o livro.
É assim que as pessoas vêem o escritor: como ser inspirado e portador de dom especial.
Livro nasce num computador, numa escrivaninha, no meio de dicionários e livros de referência. Depois de muito ler e pensar. Depois de planejamento. E nasce aos poucos. Sai, sofre cortes e adições, depois tudo de novo e mais uma vez. Se os livros representassem o mundo real, seriam sempre um fracasso. Eles representam a si mesmos e são construções. A estória mais interessante poderia ser a coisa mais grotesca do mundo se mal escrita.
Os escritores não são um bando de vaidosos querendo propagar pelo mundo suas histórias de vida. E muito menos desocupados em busca de inspiração. E não têm dons, a não ser que se chame de dom a consciência de que para escrever algo bom deve-se trabalhar e muito. Qualquer um pode ser escritor, talvez essa seja uma idéia difícil de encarar para quem usa como desculpa não ter o dom.

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