É tão difícil encontrar pessoas que não fumam maconha. Bom, pelo menos pessoas que não fumam porque não sentem falta mesmo.
Eu não tenho muitas restrições morais a isso, mas simplesmente não sinto falta, e inclusive acredito que maconha atrapalha um pouco a vida. Sei lá, eu gosto de sempre ter minha consciência intacta... e consigo ter "barato" sem usar drogas. Acho que sair pra caminhar num dia lindo aqui no Lago Norte me dá muito mais barato do que qualquer maconha. Nossa, é muito fácil. Ponho o pé pra fora de casa e, dez passos à frente, já começo a ter arrepios na coluna de tantas sensações boas que tenho. É só um exemplo. O pé nem precisa estar fora de casa...
Sinto-me privilegiada por isso. Mas sei que é uma espécie de esforço pessoal, também. Há anos que cultivo epifanias... =)
O lado ruim de ser assim é que não dá pra esperar encontrar por aí pessoas que compartilhem as epifanias. É muito pessoal, difícil de dividir, ainda mais quando a maioria está ocupada fumando um. Bom, na maior parte do tempo não me importo de ser algo tão individual. Mas às vezes importo-me sim.
As pessoas são muito únicas. Relacionamentos implicam altíssimo grau de boa vontade, desprendimento, humildade e paciência, para valerem a pena. E o mais engraçado é que a maioria dos relacionamentos não têm isso. Vão-se arrastando por aí, baseados em posse, ciúme, conforto, conveniência. Tudo em nome de um sentimento que fica ali meio escondido... É muito esquisito. Queria ir fazer um estágio na comunidade do Burkina Faso em que morava a Sobonfu Somé. Lá NADA é individual. Seria um choque, é óbvio. Provavelmente eu teria um ataque de pânico no aviâo, antes de chegar lá. Mas de repente levar umas pauladas assim seria uma boa... Bem, mas se não estou levando, é porque meu aprendizado é diferente. Podia ter um aprendômetro pra gente saber quanto está DE FATO aprendendo. Ô coisa difícil de medir. Cacete.
Esse grau de controle não existe nem nunca vai existir. Não existe nem mesmo mais ou menos aprendizado. O que existe são convenções. O resto é pum de estrela, como dizem por aí. Hahhaha...
Segundo as convenções de onde nasci e cresci, a individualidade é muito importante. É importante, importante, importantíssima! Não existe UMA pessoa que conheço que não tenha dado cabeçadas na parede por causa de orgulho. É o calcanhar de Aquiles dos homens, mas é uma peça importante no "desenvolvimento" da nossa civilização. Ser civilizado é ser orgulhoso, preservar o senso comum, preservar o senso de individualidade.
Ó céus, como isso é CAROCENTO!
Se tem uma coisa que me dá pânico instantâneamente é perceber que faço parte de algo coletivo e maior, perder as rédeas da minha unidade, individualidade. Toda vez que tenho um "insight" disso, começo a tremer, suar frio, ter taquicardia, enjôo, tontura, perco chão... Que lástima de sentimento de humanidade!
Sentir vontade de virar bicho do mato mas saber que não é possível. Sentir vontade de não ter conflitos, mas saber que não é possível. Santa ansiedade.
Ficar bem, feliz e tranquila mesmo com todo esse fuá. Isso é possível, bem possível. E sem maconha. Mas não agora, daqui a pouco, já já...
sábado, 4 de dezembro de 2004
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