domingo, 12 de dezembro de 2004

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Uma vez houve uma pessoa que foi embora e depois voltou. Eu nunca fui boa o suficiente para essa pessoa. Depois que ele foi embora novamente, escrevi, escrevi e escrevi para ele. Pensava em como poderia melhorar cada palavra para que ele se tornasse o que eu fantasiava que fosse. Para que eu fosse o que fantasiava que ele pensava sobre mim. Ele foi embora porque tinha de ir, mas para ele isso parecia menos do que para mim. Ele estava perto. Eu estava maravilhosamente distante, aparando os cantos da nossa história juntos. Devo-lhe alguma coisa? É fácil dizer que sim. Mas não há precisão nessa medida. Só sei que ele voltou o quanto pôde, viveu; e eu apenas escrevi, escrevi e escrevi. Todo dia percebo mais a fundo que nunca de fato parei de escrever. Algumas poucas vezes, e só. Agora, depois de muitas idas e vindas de outros, sei que escrever mandou embora o que não cabia no papel. E o que não cabia era justamente o que havia de melhor. Agora escrevo para gerar entrelinhas, e ainda não tive coragem de dar boas-vindas a ninguém.

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