quarta-feira, 13 de outubro de 2004

Uma coisa pessoal, muito pessoal

Você funciona como a folha de papel em que escrevo. Me dá ansiedade, não sei por onde começar, as palavras parecem inúteis ou, ao mesmo tempo, poucas. Saem tortas e não se parecem com as minhas palavras. Parecem-se com a minha própria voz insegura ao falar com você. O corpo deste texto é o meu próprio corpo desajeitado, desconfortável, encabulado. Com pouca experiência nessa forma simples e corporal de ver as coisas. Dominado por uma mente excessiva em palavras. Quem me dera elas nascessem na boca, na hora de falar. E que lá dentro fossem como penso que as suas são, potência. Séries e séries de matrizes de prováveis palavras tanto quanto improváveis. Mas é-me cara esta falta de série, só palavradas prestes a cessar, por desajeito, por vergonha infantil, por sinceridade, por um pouco de fingimento em nome de algo fora de tudo o que foi dito. Mas fora nem tanto, algo que é mais invasivo, mas mora nos interstícios. A mente excessiva em palavras busca seu caminho aqui onde não quis que aparecesse. Aqui onde sinto vergonha e penso nas palavras mais do que queria e devia. Mas meus motivos são bons porque estou afinal escrevendo, querendo pouco saber se os motivos são fortes ou suficientes, o importante é que existem. Os graus são sempre em possibilidade infinita, e eu sei da minha ilusão de ter escolhido um grau. Eu mexo com a caneta porque a eternidade, o infinito, disfarçam-se por trás desse movimento. Fazem-me pensar em controle. Quando na verdade não tem nenhum, é só engano de olhos e mãos e distâncias.

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