O amor aparece fora do discurso, fora de esquadro. É célebre. As celebridades sofrem com o que se diz sobre elas, o que vira uma espécie de verdade e a verdade aparente é praticada. Pratica-se o discurso, mas não o amor. Ele aparece fora mesmo quando está dentro, destaca-se por sua fama, incomoda ou atrai em grande medida.
E se diz dele o que se quer acreditar. O que se quer é alimento. E pratica-se todos os dias o banquete, nas telas, nas páginas, nas embalagens e em edifícios. Nas listas e enquetes, perfis e álbuns. Identifica-se, corrobora-se, projeção: alimento ainda. Contrato de dois egos, ferramenta de segurança, meu meu meu!
Começar com o desejo, só. De admirar a diferença, segurar-se em vários instrumentos, inclui o de si. Compreender, pela calma, que ansiedades são para todos, que o outro é essencialmente diverso e que fez uma escolha. Ser parceiro não é coerção, sentir-se agradecido pela convergência de vontades. Ensinar, aprender e desligar-se do discurso. Deixar-se ouvir palavras outras além ou ao invés do que se habituou necessitar ouvir. O amor pode querer ser reconhecido no discurso dos gestos, do laico e na falta de intenção. Pode estar no momento desagradável de ouvir uma contra-expectativa. É, ao que parece, sempre forte, mesmo que simples. E não participa de ódio e de posse. Pode ser entremeado por seu impostor, o discurso apaixonado, mas quer prevalecer pela força natural e pacífica, lenta e calma, quer aparecer o tempo todo.
Acho.
domingo, 26 de fevereiro de 2006
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3 comentários:
Isso é lindo.
E ao ler me lembrei desse seu medo de que nada seja seu. Isso é tão seu. E é tão rico, tão forte e tão vivo. Não é estéril. Entendo você ter medo do estéril, porque ele é um perigo real para a gente. Mas não é o caso. Só vejo palavra prenhe no seu blog.
Te amo.
obrigada, chuchu... fiquei emocionada ao ler seu comentário. você me ajuda e me dá muita força. te amo muito, de verdade.
O mais estranho é que a vida coloca à nossa frente situações que nos mostram que estamos prontos apenas para o discurso, e continuamos a dizer que nada da certo, e que os tempos estão difíceis... abrir mão do SEU e do MEU parece ser algo que não aprendemos para COMviver, e talvez por isso o conviver esteja tão doído. Amei seu texto. Me fez refletir por horas. Como sempre. Bjos
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