nos poemas de amor o poeta exalta a amada e diminui-se. considero essa manobra irônica... o que ele exalta é o poema, talvez um tanto a si mesmo e sua persona-escriturária. quem ama (ou assim acredita) e dirige seus clamores a outrem está possivelmente realizando o tipo de devoção que gostaria alguém tivesse a ele. é talvez mais insensato do que aceitar que o amor próprio é o único que realmente move as pessoas. que se projeta nos outros sempre o que se quer para si. ler pode ser fantasiar que se é o autor. escrever envolve a criação imaginária de um leitor ideal, que ninguém mais é do que si próprio.
buscar o amor, portanto, pode ser buscar um duplo. opostos podem ser interessantes por não carregarem a culpa da falta de modéstia do auto-amor, e também por muitas vezes realizarem o que não se deixa realizar, mas que é na verdade o eu que existe na mente.
pode ser que, se cultivado o amor-próprio, e assumido, o apreço pelo outro seja coisa mais comum. e não ciúme de si mesmo mascarado em orgulho, vaidade, posse, cobrança...
enquanto isso, tendo a ficar de altas. (ou autas? de onde surgiu isso hein?)
p.s.: pensando aqui: e se ele diz deixar sua vida de lado por outra, isso não é uma tremenda desculpa para não aprender nada? para não aperfeiçoar-se? mais uma vez defendo uma certa imodéstia, e até o total despudor em amar-se a si mesmo e cultivar esse amor. mas estou aberta a sugestões. e que fique claro que não acho que os bons poetas "de amor" são de fato amantes de uma donzela (a não ser que a língua ou a escritura sejam a tal). continuo a acreditar na ironia da palavra poética... as coisas de verdade não são representadas, mas sim praticadas ou, no mais das vezes, pensadas – sentidas. aproveito minhas inclinações por terceiros (ou segundos, dependendo de quem lê) para aquela manutenção diária e benfazeja de auto-crítica. e não desperdiço (ao menos idealmente) oportunidades de aprendizado nesse sentido com horas de fantasias e expectativas.
quinta-feira, 16 de junho de 2005
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