E aqui termino a intenção do discurso. Agora que acaba a leitura, acaba todo vestígio de vontade. É, então, dispersão. Negada está a curvatura proposta no início, cumprimento e reverência com tendência ao infinito, provisão da voz amorosa. Suas palmas tornaram vazio o parlatório antes mesmo de ser ocupado. Um discurso, não atrasado mas de desistência. Você escutou, com as palmas das mãos, o sopro dessa platéia que parecia ser mesmo você. As contrariedades todas feitas fora de juridisção tornam-se o ouvinte fantasmático, ele senta-se ao seu lado. Chegou não sabe como ao local do pronunciamento.
O orador engole – quase de uma só vez– o refluxo ainda não ocorrido, em trânsito. A fala repleta-se de locuções que perfuram a língua, mas que fogem ao futuro e de volta ao texto. O ante-discurso de caixa retumba em pulsos de origem desconhecida, pulsúreos que afetam toda a parede de ressonância, você é o belo.
Ressona aquele que fala, a voz é ruído, aqui começa a intenção do discurso.
terça-feira, 31 de maio de 2005
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