domingo, 26 de fevereiro de 2006

O amor aparece fora do discurso, fora de esquadro. É célebre. As celebridades sofrem com o que se diz sobre elas, o que vira uma espécie de verdade e a verdade aparente é praticada. Pratica-se o discurso, mas não o amor. Ele aparece fora mesmo quando está dentro, destaca-se por sua fama, incomoda ou atrai em grande medida.
E se diz dele o que se quer acreditar. O que se quer é alimento. E pratica-se todos os dias o banquete, nas telas, nas páginas, nas embalagens e em edifícios. Nas listas e enquetes, perfis e álbuns. Identifica-se, corrobora-se, projeção: alimento ainda. Contrato de dois egos, ferramenta de segurança, meu meu meu!

Começar com o desejo, só. De admirar a diferença, segurar-se em vários instrumentos, inclui o de si. Compreender, pela calma, que ansiedades são para todos, que o outro é essencialmente diverso e que fez uma escolha. Ser parceiro não é coerção, sentir-se agradecido pela convergência de vontades. Ensinar, aprender e desligar-se do discurso. Deixar-se ouvir palavras outras além ou ao invés do que se habituou necessitar ouvir. O amor pode querer ser reconhecido no discurso dos gestos, do laico e na falta de intenção. Pode estar no momento desagradável de ouvir uma contra-expectativa. É, ao que parece, sempre forte, mesmo que simples. E não participa de ódio e de posse. Pode ser entremeado por seu impostor, o discurso apaixonado, mas quer prevalecer pela força natural e pacífica, lenta e calma, quer aparecer o tempo todo.
Acho.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

a falta que faz

o orkut?
mais ou menos. não o orkut, mas acho legal o sistema da amazon.com
você pode ter amigos na lista também, pode criar várias listas de coisas legais (os famosos tops 10) e ficar sonhando com o consumo de coisas honoráveis ou não.
quem quiser me adicionar, é só me procurar pelo nome Maíra Mendes.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

"Percorrer. Era um caminho, e deveria conter as medidas dos passos de Lucindo, já que era sua face voltada para os possíveis fins. Enquanto se via direcionado pelo olhar, anoitecia a leveza da paisagem. Anoitecia em pensamento, em vista, em frente; era noite também numa certa rua tão distante quanto poderia ser. Onde se vêem ruas também está o negativo direto, uma visão de rochas e gelo que é passagem para algo, coisa parecida, por que não. E ele, agora, no topo da claridade permitida, deu, enfim, o primeiro passo. Poderia crescer o quanto quisesse, era sua prerrogativa de sonhador. Até que acordasse, poderia pisar um pico de cada vez, sem que destruísse o que de mais agudo lhe saltava aos olhos. Estabilizar-se não era menos do que uma simplicidade. Seu caminhar desenrolava-se, ritmo de precisão. O acompanhamento do passo era o lento possível na paz expressa pelo corpo não perturbado.
Noite após dia após noite: Lucindo esforça-se para voltar ao caminho que lhe desafia pela dureza e que parece poder ser domado pela maleabilidade da condição desse encontro. É o sonhar protagonizado, tomado até, pelo sonhador. Ele carrega o peso do maciço que será completado com um fechar de olhos. Sente-se Atlas, também pela perspectiva, por ser mirador artífice.
De volta aos ponteiros sem tributo, ele apanha estilhaços de sonhadores prévios, todos os Lucindos que lhe foram precursores. Os futuros Lucindos precursores de pretéritos sonhadores também enfeitiçados. O tempo do sonhar tem correspondência sem fins, não traduz praticidade, não representa. Fechados os olhos, abertas as portas para o mundo de branco e entremeios escuros. Nas margens desse mundo está a escuridão, a parte de trás da tela. Lucindo interessa-se apenas pelos caminhos adiante, são idênticos em intenções ao que veio antes, e ele avança. Hoje, não vai pelos picos. Abriu-se uma estrada em que se anda sem tirar os pés, uma vaga para se praticar o deslize, pegar retornos, empreender retomadas.

•••

Enquanto em vidas no ar passam caminhos sem viajantes, nas vidas de matéria passam apenas os que viajam; caminhos, não os há. E, nesse percurso tão forjado por cabeças milhares a ferver noite após noite, existem os rompimentos. Os furos aqueles, os que lhe espiam diretamente entre as palavras, os que sintetizam lugares no centro de Lucindo. Que os apreende, em seu ritmo. Em seu escuro, claro, passo, fenda. Os afetos que são estacas, migalhas no escuro, claros no passo, fenda em negativo. Mixórdias em afagos que se entretecem que se desfazem um primeiro, outro depois, até o mais alto. As pontas forjadas por nenhum aparente, fecundadas por probabilidades, interferência chega na forma de Lucindo e determina curso, cor, velocidade, sabor, forma e posição.
É você, olhe para mim. Estou nestas frases, minimamente, mas grande em cada migalha de papel impresso, enorme no fundo da folha e incomensurável no espaço entre os seus olhos e o livro. Muito prazer. Ou desejo mesmo, fetiche, enfim, posso ser o discurso do que se aspira, mas nunca realizo. Ando sempre a tangenciar as bordas do seu desejo, Lucindo. E assim você me persegue. Noite adentro e dia afora, quando aumenta o ponto de contato. Mas o que você não sabe é quem determina. É você. Eu aponto, mesmo forte posso receber descaso. Mas você me segue, neste momento, posso te conduzir ainda um tanto. Não houve ruptura, espere. Não, aconteceu apenas um reconhecimento do encontro. Senti por bem dirigir-me a você, já que lhe levava pelos olhos e espírito a percorrer minha cadeia. E nela você deixou seus vestígios. Achei por bem, sim, lhe dizer que sou corpóreo. Por mais opaco que lhe pareça, não exatamente lhe aparecia. É evidente."


Trecho de livro anônimo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

orkutcidio

eu também cometi.

=)